Formação Profissional

 

Introdução

A luta contra o desemprego urbano nas cidades de Bissau e São Domingos, em especial dos jovens rapazes, a capacitação de raparigas e mulheres para a criação de empregos e acesso a novas fontes de receita, assim como o estímulo para os jovens das zonas rurais se fixarem profissionalmente e não se deslocarem para Bissau, tem sido uma das preocupações maiores do programa da AD de formação para o desenvolvimento.A nossa aposta tem sido na promoção de estruturas e mecanismos de formação de jovens, como a Escola de Artes e Ofícios de Quelélé (EAO) e o Centro de Formação para o Desenvolvimento Comunitário  de São Domingos (CENFOR), que inclui a formação de lideres de associações e a promoção de visitas de trabalho aos países vizinhos para tomada de conhecimento de experiências inovadoras.Estas duas escolas profissionalizantes representam para a AD um dos desafios de maior responsabilidade, uma vez que exige muito profissionalismo na sua gestão e organização e a garantia de competência dos monitores dos cursos.O reconhecimento e entusiasmo dos jovens de Quelele e de São Domingos neste tipo de formação, reflecte o facto de se tratar de uma iniciativa que vem responder aos seus anseios e prioridades.Na realidade, os cursos são abertos e frequentados por rapazes e raparigas, capacitando-os para acções que lhes permitem aceder a actividades empresariais de auto-emprego e de prestação de serviços. Desta forma, eles sentem-se melhor preparados para concorrer com a oferta de mão-de-obra dos Senegaleses que, por estarem actualmente mais avançados e terem maior experiência, têm tendência a dominar o mercado local de serviços.

Escola de Artes e Ofícios de Quelélé (EAO)

Começada a ser construída em 2001, é no ano seguinte que se iniciam os primeiros cursos de formação profissional:

  • Serralharia civil (duração de 6 meses, participação de 16 jovens por curso e um curso por dia)
  • Electricidade (duração de 6 meses, participação de 15 jovens por curso e dois cursos por dia)
  • Informática (duração de 3 meses, participação de 12 jovens por curso e 6 cursos por dia (72 formandos por dia))

Simultaneamente a EAO organiza um grande número de cursos pontuais de formação para o desenvolvimento de curta duração:

  • Transformação de fruta e fabrico de compotas
  • Batik
  • Tinturaria
  • Corte e costura
  • Francês, Português e Inglês
  • Música

A maior parte dos beneficiários destes cursos são jovens do bairro de Quelélé, registando-se uma frequência de cerca de 39% de pessoas do sexo feminino.Igualmente a EAO promove cursos destinados a membros das comunidades envolvidas em dinâmicas de desenvolvimento com a AD:

  • Formação de quadros de associações de base, incluindo a capacitação dos lideres de agrupamentos, responsáveis comunitários de programas e pessoas recurso que funcionam como conselheiros e animadores comunitários, com vista à apropriação das dinâmicas tributárias da aquisição de conhecimentos técnicos, organizativos e de concepção.
  • Formação para os professores das Escolas Populares, incluindo cursos de planeamento e estatística (cálculo de percentagens e elaboração de gráficos), de iniciação à informática (tratamento de texto, elaboração de gráficos, quadros e cronogramas e introdução à folha de cálculo), de ensino do português, de formação de formadores para promotores de escolinhas e de metodologia de ensino do português, matemática, expressão e educação física.
  • Formação de jovens radialistas das rádios comunitárias, incluindo cursos de programação e produção de reportagens de campo, produção de programas agrícolas e rurais, de audimetria e de manutenção e reparação de equipamento audio e emissores,
  • Formação de quadros da AD em animação comunitária, em concepção, gestão, acompanhamento e avaliação de projectos comunitários, em descentralização e intervenção social.

Embora seja ainda muito cedo para se tirarem conclusões seguras e definitivas, as primeiras observações parecem conduzir-nos às seguintes reflexões e dúvidas:

  • Contrariamente ao que inicialmente se previa, a quase totalidade dos interessados nos cursos de média duração, não são jovens já com uma ocupação profissional a quererem melhorar as suas performances qualitativas, mas sim jovens que concluíram o ensino secundário, estão desocupados e procuram o seu primeiro emprego. A confirmar-se esta tendência, a EAO vai ter de alterar os curricula destes cursos, tornando-os mais exigentes à partida devido ao nível escolar dos formandos.
  • Paralelamente, a EAO terá de encontrar formas aliciantes de interessar os jovens que já têm um emprego, por mais informal e precário que este seja, para os motivar a freqüentar sessões de capacitação e melhoria da qualidade de trabalho. A questão da duração dos cursos e carga horária diária e semanal, parece representar a questão fulcral a resolver.
  • A procura em ter uma rápida qualificação profissional, parece estar a levar os jovens a inscreverem-se no curso disponível na ocasião, em vez de esperarem por aquele para que se sentem mais interessados ou vocacionados. Esta questão só poderá ser minimizada com o rápido início e funcionamento simultâneo dos restantes cursos que possibilitem aos jovens um maior leque de opções e não escolhas de recurso.

Embora a qualidade dos cursos seja boa, chegou-se à conclusão que, para todos os cursos, deverá haver dois módulos complementares:

  • Um sobre o tema “Como gerir um negócio”, pretendendo-se a sensibilização dos formandos para os procedimentos básicos de organização e gestão do negócio e para a necessidade de produzir com qualidade. Responde-se assim à grande dificuldade que os alunos saídos da escola têm em “arrancar” com o seu primeiro emprego.
  • Um curso de “Comunicação em Língua Portuguesa” com o objectivo de reorganizar, consolidar e actualizar os saberes adquiridos, mobilizando-os e adequando-os às diferentes necessidades comunicativas que a vida cívica e profissional vai impondo. Este módulo inclui uma componente de “Educação para a Cidadania” que visa proporcionar aos formandos oportunidades de explorar um conjunto de situações sociais, de reflectir sobre a natureza das relações interpessoais e desenvolver a compreensão dos factores pessoais e sociais que influenciam as suas próprias vidas.

Os resultados obtidos e as expectativas criadas pela EAO não só em Quelélé, como também nos outros bairros de Bissau, deram maior responsabilidade a esta Escola, pelo que ela vai começar a dotar-se de instrumentos e mecanismos de funcionamento que potenciem o grande investimento feito e modificar algumas ideias iniciais, porque inviáveis.Vencida a primeira prova que era pôr a EAO a funcionar:

  • A Direcção da Escola vai priorizar e concentrar os seus esforços:
  • na criação de condições para o inicio de funcionamento dos restantes cursos, elaborando programas anuais de formação e planificando o ano formativo
  • na procura agressiva de financiamento para a aquisição do respectivo equipamento e consumíveis, criando mecanismos para a sua auto-sustentabilidade financeira, a qual passa pela venda dos seus serviços (cursos, instalações e capacidades),
  • na procura atempada de assistência técnica pontual para a concepção de certos cursos,
  • na formação dos monitores e na definição dos curricula dos novos cursos,
  • na melhoria substancial do seu funcionamento administrativo e financeiro,
  • na criação de mecanismos formais e informais para a identificação dos novos e inovadores cursos em função do interesse dos jovens, da procura do mercado e das potencialidades futuras de emprego,
  • numa muito maior proximidade física aos jovens do bairro, das oficinas e escolinhas para se aperceber, mais concreta e seguramente, dos interesses dos jovens pelo tipo de cursos e seu ministramento.
  • O Conselho Consultivo da Escola vai passar a ser mais interventivo, congregando as Direcções da Associação de Moradores, dos Jovens e da AD, representantes de eventuais empregadores e antigos alunos, com o objectivo de orientar as opções estratégicas da EAO, enquanto instrumento de promoção do emprego juvenil e de desenvolvimento comunitário, evitando a natural tendência para a sua burocratização e cristalização.
  • A Direcção da Escola, para poder cumprir todas as suas responsabilidades, vai profissionalizar em regime de full-time os seus elementos, atribuindo funções concretas a cada um, evitando sobretudo pensar que a solução passa por introduzir mais recursos humanos, antes dos que já existem estarem a ser utilizados no máximo das suas capacidades e potencialidades.

Centro de Formação Rural de S. Domingos (CENFOR)

Em Outubro de 2002, o então Ministro dos Recursos Naturais estabeleceu com a AD e o Ayuntamiento de Elche de Espanha, um acordo de cedência da antiga Escola de Poceiros de São Domingos, por um período de 10 anos, comprometendo-se a AD a utilizar e gerir as suas instalações para promover a formação de jovens em actividades profissionais, programas de desenvolvimento rural e de gestão ambiental, procurando desta forma incentivá-los a fixarem-se no sector de São Domingos e a não emigrarem para Bissau ou países vizinhos.Tratou-se de um novo e difícil desafio que se colocou à AD, uma vez que aquela escola estava completamente paralisada há vários anos, com as instalações muito degradadas e com o mobiliário e recheio desaparecido. No entanto, com um pequeno investimento gradual conseguiu-se recuperar várias salas que estão a permitir rentabilizar aquele investimento, propiciando aos jovens o acesso a cursos vocacionados para o primeiro emprego, ou à sua capacitação para actividades geradoras de receitas.Mais do que a realização de cursos avulsos ao sabor das ocasiões ou dos impulsos de momento, está-se a procurar amarrar este Centro aos programas de desenvolvimento promovidos pela AD (ou por qualquer outra organização que entretanto se venha a instalar neste sector). Daí que a criação do Conselho Consultivo implicando, entre outros, a Administração local, representantes de associações de base, directores de programas e responsáveis da AD vise garantir que a organização dos cursos responde a critérios rigorosos de interesse dos jovens e emprego local, no quadro de programas de desenvolvimento em curso ou a implementar.O CENFOR, iniciou os seus cursos em 2003, tendo-se concentrado nas seguintes formações:

  • Carpintaria
  • Serralharia
  • Transformação de produtos agrícolas
  • Corte e costura
  • Informática

A médio prazo, há que ter em conta a importância e crescimento futuro da cidade de São Domingos, fazendo dela um centro de prestação de serviços e entreposto de comercialização de produtos agrícolas e halieuticos, pelo que os cursos a realizar deverão enquadrar-se nesta perspectiva:

  • Construção civil
  • Electricidade
  • Mecânica-auto
  • Gestão e contabilidade
  • Marketing
  • Línguas (em especial o francês e inglês).

A viabilização deste Centro de Formação passa igualmente pela sua utilização na organização de encontros de desenvolvimento, seminários temáticos e enquanto estrutura de reflexão e debate de políticas de descentralização. Para isso, a perspectiva de intervenção irá ser agressiva, no sentido de procurar financiamentos para a realização de todas estas acções de formação e reflexão, transformando o CENFOR num local privilegiado de debate nacional das questões do mundo rural. Mais do que ficar à espera de apoios financeiros que caiam do céu, ir-se-ão organizar eventos e formações que permitam reabilitar as infraestruturas decadentes, dotando-as de mobiliário e equipamento para obter recursos que assegurem o seu funcionamento.

Pessoas-contacto na AD, para este programa

  • Isabel Levy Ribeiro (isabelevy@hotmail.com)
  • Jorge Camilo Handem (jorgecamilo_handem@hotmail.com)
  • Quecuto Djauara (caixa postal 606, Bissau, Guiné-Bissau)
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