Cantanhez

 

Projecto EcoCantanhez – Ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez

 

O projecto EcoCantanhez – Ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez – compreende entre outros:

  • Turismo ambiental: baseado na contemplação de paisagens nas 14 matas, na observação de animais (macacos, chimpanzés, elefantes e búfalos), aves (pelicanos e aves migratórias na foz do rio Cacine), passeios fluviais no rio Cacine e afluentes, itinerários pedestres ou de bicicleta de 1 a 2 horas, visita à ilha dos Pássaros, ilhéu de Melo, Ilha de Nuno Tristão ou ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão, bem como a miradouros de bebedouros de animais
  • Turismo histórico: onde se valoriza o facto de Cantanhez ter sido o berço da nacionalidade guineense e onde ainda estão presentes alguns vestígios luta de libertação nacional, tendo como grupo-alvo os quadros guineenses sentimentalmente ligados à história recente da Guiné-Bissau.
  • Turismo da saudade: tem como grupo-alvo os antigos militares portugueses que fizeram a guerra naquela zona, em especial em Guiledje, Gandembel, Cacine, Gadamael-Porto, Bedanda, Iemberém, Cafine, Cadique, Caboxanque, etc.
  • Turismo Cultural: com formas de percepção e de estar da vida das diferentes etnias locais (nalús, tandas, balantas, fulas, djacancas, sossos), danças e música de cada uma das etnias, história e estórias, lendas, religiões e crenças, modos de vida, formas de vestir, instrumentos de trabalho (agricultura e colecta) e organização social das tabancas e regulados
  • Turismo Científico: com a procura do conhecimento da geografia física,do estudo dos diferentes biótipos da região (bolanhas, florestas, palmar, mangal), identificação da exploração da fauna e flora pelo homem (alimentos, construção, medicamentos, energia, canoas) e dinâmicas da fauna  (chimpanzés e babuínos) e flora.

Em termos de instalações de acolhimento:

  • Já existem 3 bungalows em Iemberém, com todas as condições de higiene e conforto, apresentando a sua construção um enquadramento com o habitat tradicional, tendo-se utilizado maioritariamente material local (adobe e palha).
  • Começaram a ser construídos na tabanca de Faro Sadjuma mais 3 bungalows que estarão concluídos no final de 2008
  • Em Canamina vai ser construído a partir de Novembro um bungalow para os que quiserem estar junto ao mar no rio Cacine.

Para que o ecoturismo tenha uma verdadeira apropriação comunitária, definiram-se as seguintes regras de ouro:

  • O maior número possível de tabancas devem sentir-se envolvidas no processo, beneficiando, por pouco que seja, das actividades promovidas. Isto evitará a tendência natural para a auto-exclusão e rejeição das que não forem incluídas.
  • Envolver todos os grupos sociais e etários (horticultoras, pescadores, fruticultores, jovens, mulheres, adultos, etc.), procurando responder ao que verdadeiramente os interessa e são as suas prioridades.
  • Ter a consciência clara de que “ninguém luta pelas ideias que estão na cabeça dos outros”, mas só naquilo em que acredita. Daí que os promotores do ecoturismo devam sempre fazer o exercício de se colocarem no
    lugar da comunidade para cada iniciativa que pretendam implementar e nunca impor a sua agenda de prioridades.
  • A preservação e boa gestão dos recursos naturais tem de andar de par com a melhoria real (e sempre que possível rápida) das condições de vida e trabalho das comunidades.
  • Não esquecer que o ambiente, cultura, associativismo, agricultura, pesca, desporto, etc. são actividades interdependentes no dia a dia das populações locais e querer resumir tudo a uma delas é o primeiro passo para o insucesso do programa.

Têm-se desenvolvidas actividades com jovens, enquanto artesãos, guias ecoturísticos e guardas comunitários, com mulheres, nos domínios de restauração, alojamento, artesanato, compotas, tinturaria de panos, horticultura e extracção de óleo de palma, assim como com os homens na produção frutícola e de venda de plantas medicinais.

Com as tabancas apoiou-se a construção de Escolas de Verificação Ambiental, a instalação de meios de comunicação comunitária (Rádio e Televisão), poços e a introdução de moageiras de farinha de mandioca e prensas de óleo.

Os desafios de curto prazo que se apresentam ao ecoturismo são os de:

  • Promover uma imagem da Guiné-Bissau enquanto país de história, cultura e pioneira em certos processos de gestão ambiental, capaz de mobilizar turistas preocupados com valores nobres e progressistas.
  • Desenvolver uma visão que não seja geograficamente restrita, isto é, que não tome apenas Cantanhez como única área de intervenção. O ecoturismo só será viável se incluir de forma coerente e em conjunto outras
    zonas: Parque Marinho de João Vieira e Poilão, Ilhas de Melo e Tristão, Dulombi, Saltinho, Parque transfronteiriço de Guiledje-Boé e Xitole (macaréu).
  • Encontrar para cada tabanca, pelo menos um motivo de oferta turística capaz de fazer deslocar os potenciais ecoturistas mobilizando simultaneamente o interesse da comunidade.
  • Criar uma cultura de exigência em termos de higiene e remoção-tratamento de lixo.
  • Favorecer a identificação e formação de operadores e trabalhadores turísticos locais, tais como gerentes de unidades de alojamento e restauração, empregados de mesa, de bar e de quartos.
  • Ir encontrando formas e soluções que sintonizem uma boa gestão dos recursos ambientais com as necessidades pressionantes das comunidades.

Itinerário Lautchandé – Rio Cumbidjan
Abandonamos, de carro, a vila de Iemberém a fim de nos dirigirmos para oeste, pela estrada de Cadique. Percorridos alguns Km, deixamos a estrada e entramos no caminho que nos leva a Lautchandé.
Ao longo deste percurso atravessamos a floresta de Cantanhez, densa em determinados momentos e mais aberta noutras zonas.
Numerosas termiteiras sugerindo verdadeiras catedrais podem ser observadas e admiradas.
Ao entrarmos em Lautchandé podemos observar diferentes actividades dos seus habitantes: colmeias inseridas nos troncos de árvores, secagem de finas fatias de mangas que põem a secar ao sol para
poderem conservá-las durante vários meses, cultura de arroz, mandioca, batata doce, colheita da castanha de caju e do fruto carnudo para dele extraírem o vinho de caju, tão profusamente consumido.
Notamos que o mel é o açúcar local e um alimento muito apreciado.
A tabanca dispõe, há três anos, de uma escola nova, construída graças ao apoio do Ministério da Educação, do PAM e da AD. Um poço de água potável e latrinas completam as suas infra-estruturas.
Quatro professores dão aulas, cada um numa sala de quarenta alunos. Estes 160 alunos só têm aulas da parte da manhã, porque, da parte da tarde, outros 160 têm aulas nesta mesma escola.
Voltamos para o carro para percorrermos a floresta onde todos ajudam a afastar uma árvore que por vezes cai na estrada.
Chegamos a um braço do rio Cumbidjan onde descobrimos um belo mangal separando a terra da água.
Numerosos pássaros entre os quais uma colónia de pelicanos brancos podem ser observados.
Regressamos ao carro para nos espraiarmos na espessa floresta de Cantanhez e só paramos no local onde uma placa nos avisa “passagem de búfalos”.
Percorremos, a pé, esse corredor utilizado pelos animais até ao sítio onde eles vão matar a sede.
Descobrimos muitos sinais de excrementos de animais e, seguindo este caminho, entramos numa savana atapetada de erva onde podemos observar indícios da presença de búfalos, gazelas e javalis.
Regressamos ao carro ouvindo os gritos dos chimpanzés que nos descobriram.
Três grupos são nitidamente identificados. Entramos no carro que nos leva ao local onde estamos alojados, em Iemberém.
Este itinerário de 3 horas deu-nos a possibilidade de descobrir muitos aspectos da vida dos homens, da fauna e da flora da grande e bela floresta de Cantanhez.

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